
Muitos times no Brasil tem alcunhas, apelidos, epítetos e denominações heróicas e nobres. Mas apenas um time é chamado de "glorioso". E não só pelas palavras do seu hino, um daqueles magníficos hinos cariocas compostos por Lamartine Babo, mas também pela mística e história que carrega, ainda que, paradoxalmente, menos gloriosa que seus congêneres. Afinal, o
Botafogo de Futebol e Regatas, mais conhecido alvinegro do Rio de Janeiro, nunca teve a pompa e o
glamour do Fluminense, nem a avassaladora torcida e os títulos do Flamengo, nem mesmo a história de lutas e conquistas sociais e raciais do Vasco da Gama. O Botafogo, contudo, tem uma mística que acompanha poucos clubes no país. Seus torcedores são como fiéis religiosos: tensos, supersticiosos, ingrédulos, pessimistas e sobretudo, apaixonados pelo clube como se fosse parte da família. A história do clube é marcada, desde sempre, pela superação, pelas voltas por cima, pela eterna sombra do "quase" que tornou cada conquista e cada título um momento mágico. Pelo Botafogo passaram jogadores lendários, mas nunca as lendas que sustentavam o time, como Pelé ou Zico, mas ídolos pagãos, absurdos, tão geniosos quanto geniais. O Botafogo é o time de loucos magníficos como Heleno de Freitas, Garrincha, Manga e Amarildo, de iluminados quase sobrenaturais como Gérson e Nilton Santos, de artilheiros irreverentes como Túlio e Dodô. Essa miscelânea quase irreal, mistura de tragédia, sonho, ilusão e glórias é o espírito do Botafogo.

Haveria de ser um dia mágico e foi. E toda a superstição dos botafoguenses se traduziu nos números e nas coincidências. Dia 21 de junho de 89, Maracanã, 21º de temperatura (segundo marcava o placar eletrônico), 21 anos sem título. O gol veio aos 12 (21 ao contrário) minutos do segundo tempo, marcado de cabeça por Maurício (camisa 7 - o número de
Garrincha), após o cruzamento de
Mazolinha. Nesse dia, encerrava-se a fase mais sombria da história do clube da estrela solitária. Não houve no Rio de Janeiro quem não se comovesse com a festa e, com exceção dos irredutíveis rubro-negros (de Zico, Bebeto, Jorginho, Aldair, Leonardo e Zinho) derrotados na final, não houve quem na cidade que não tivesse torcido pelo Botafogo de Maurício, Gottardo, Mauro Galvão e Paulinho Criciúma, campeão invicto de 1989.
Botafogo x Flamengo 1989 - Cartela de escudinhos (PDF)
Botafogo x Flamengo 1989 - Cartela de escudinhos (PNG)
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